As palavras tem um poder incrível, mas muitas vezes não são ditas na hora certa, elas são como as abelhas, podem ser doces como o mel, ou doloridas e amargas como o ferrão. As palavras tem o poder de curar, mas também podem levar a morte. Digo estas palavras por experiencia própria, para entenderem melhor vou contar minha historia:

Tudo começa em cima de uma escrivaninha com a luz fraca de um abaju velho, em um quarto escuro onde nem se quisesse a luz do sol entraria, meu criador um homem apaixonado por uma mulher que está longe da vista mais perto do coração. Gravava em mim seus sentimentos mais puros, entre suspiros e lagrimas contidas, expressava em versos e apelos o amor que tinha guardado. Atormentado por seus medos, mas alimentado por sua esperança, fazia-me seu definitivo esforço, enquanto esperava pelo momento de minha viajem definitiva, imaginava os sentimentos que poderiam estar por trás de ambas as mãos que me tocariam, pensei comigo que talvez seja o amor o mais complicado dos sentimentos humanos.

depois de muito tempo, de palavras escritas em mim, via algo descer sobre seu rosto, uma lágrima, que reflete a luz fraco do abajur, seria ela simbolo de esperança ou simbolo de derrota? to num sei até hoje só sei que tenho a marca desta lagrima até hoje,

De resto... lembro me das mãos trêmulas que me selavam, o súbito vazio e silencio do corpo debruçado sobre mim, eventualmente sacudido por soluços. Até hoje não o sei e nem o conheço por nome, mas sei que dai vieram minhas gravuras.. para que alguém as lesse

fui dobra em dois e colocado em um bolso de um casaco velho, cheirava a naftalina e tinha muitos remendos, depois de algumas hora vejo novamente a luz do sol, mas por pouco tempo, logo sou colocada em uma grande caixa de ferro, onde encontro varias de mim, que vão para vários lugares diferentes. O lugar era quente e abafado, não que eu sinta calor e respire, mas simplesmente por que era. Estávamos todas amontoadas, esperando que alguém nos levasse dali. Somente algumas horas depois pudemos sair mas por pouco tempo.

Logo fomos colocados em sacolas e levados pra um lugar muito diferente onde tinha vários de nós, de diferentes tamanhos, diferentes formas e jeitos, depois fomos separados e encontrei mais outras correspondências (era assim que os humanos nos chamávamos) e logo tudo começava a mudar.

Fomos colocadas em um armário imenso porem com compartimentos muito apertados, o funcionário que nos manuseava parecia irritado e usou de uma força excessiva, como resultado acabamos bem no fundo do armário , á beira de um precipício enorme, eu estava pendurada, tentando segurar-me com todas as forças muitas outras estavam na mesma situação mas eu sabia que não poderia segurar-me por muito tempo. Foi então, que antes que alguém percebesse eu acabei caindo e o vento me levou para de baixo de imenso armário, estava frio, eu estava sozinho, sou tão insignificante que ninguém notou minha falta, e fiquei lá... e fiquei... fiquei...

Os dias se passavam sem que ao menos visse a luz, como desejava poder mover-me e sair desse lugar tão frio e escuro, já não sabia o que me aconteceria, o tempo amarelava-me pouco a pouco, mais de uma vez fui atacada por traças ferozes sem ao menos ter como defender-me. Que tipo de carta eu fui? Se nem ao menos pude cumpri com minha obrigação...

Mas um certo dia, em alguma hora de um mês que não sei qual, o rumo de minha vida, meu destino, mudara, retomava-se meu real destino. Eu nunca a tinha visto, pouco reparava nas cerdas de palha e nos pés cansados, sua presença silenciosa me passava despercebida enquanto fechava-me nessa solidão desgastante. Mas desta vez os pés cansados pareciam mais ágeis e as cerdas mais enérgicas , chegando cada vez mais perto e provocando -me arrepios

A cada passo daqueles pés e cada movimento das cerdas eu já pressentia o que havia de vir, depois de vários pequenos sustos a vassoura finalmente alcançou-me, fui amassada, comprimida ao chão e arrastada , se tivesse olhos, a luz os teria ofuscado agora, estava cercada por restos de papeis e poeira, a morte me parecia cada vez mais perto, mas tudo mudou outra vez quando senti aqueles dedos me tocarem, olhos me percorreram, fui sacudida e em um bolso guardada.

Deste momento foi uma aventura, passei de mão em mão, vi vario rosto, vários lugares, acontecia uma corrida contra o tempo, o tempo que passou tinha que ser recuperado, não tínhamos tempo há perder. Nunca imaginei que faria tantas viagens, mas essa urgência era mais forte que tudo isso, estava perto de cumprir meu destino. Naquele dia nublado, era manhã ou tarde? ah! Isto era impossível de descobrir. O suspense me matava e meu coração estava disparado (se ao menos eu tivesse um) .

As mãos que seguravam-me novamente, levavam-me, minha aflição crescia, as batidas rápidas na porta anunciavam que meu destino estava perto , bem ali. Abria-se a porta, um rosto aparecia no canto da porta, ela se assusta ao me pegar e quase desmaia, despenca no sofá e me joga na mesa, parecia ter medo de mim, receio, não sei explicar oque acontecia.

Passaram horas, minha espera e angustia eram quase insuportáveis, ela ainda no mesmo lugar, seu corpo se mexendo em intervalos, como soluços, as vezes me olha mas não se move de onde está.

Mas agora parece levantar-se, seus dedos tocam-me, tateiam-me, esta me abrindo, meu destino cada vez mais perto. Ao terminar de me ler, ela despencou a chorar e me molhou, depois correu até uma lista telefônica e fez um telefonema, foi aí q ela não parava de chorar, e chorava e chorava, mais falava do que chorava.

Ao desligar o telefone apertou-me contra o peito, ouvia e sentia seus soluços, suas lagrimas brilhavam refletindo a luz que entrava pela janela, lembraram-me daquela primeira lagrima que marcou-me a tanto tempo e que agora juntava-se a todas essas outras...

O final desta historia nem preciso contar, né? mas vou contar assim mesmo. eles se reencontraram cerca de 20 anos depois, em lindo por-do sol selado com um beijo profundamente apaixonante. Suas vidas já estavam traçadas e entrelaçadas, só precisavam de um tempo pra perceberem como amavam um ao outro.

Hoje posso dizer que cumpri meu objetivo, vivo agora nesta gaveta, carinhosamente guardada como parte de uma historia de amor. Talvez o tempo tenha sido cruel mas hoje vejo que nada acontece por acaso, prendia-se meu destino a um fio de esperança, de uma lagrima marcada em mim.




Produzido por:

Gilvânia Duarte
Mauri A. Oliveira

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Sou apenas uma pequena sonhadora, que busca entre as linhas que escreve um mundo melhor. Escrever é meu jeito de me vingar do mundo! Sonhando, pois são os sonhos que acalentam a alma, que nos sustentam neste mundo, que nos trazem alivio.~*Com um passo de cada vêz Sigo em FrenTe ♥